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segunda-feira, 11 de julho de 2016

Noruega exemplo de transparência salarial - pós vs contra

Na Noruega todos têm acesso a informações sobre o quanto qualquer cidadão do país recebe de salário e o quanto paga de imposto. Seria uma forma de usar a própria sociedade para fiscalizá-la. A prática, porém, não é replicada em muitos países e gera críticas principalmente sobre a questão da segurança - se todos conseguem saber quem são os mais ricos de um país, esses podem ser um alvo fácil da criminalidade.  

Sem segredos

 Em Oslo ou em qualquer cidade da Noruega, antes mesmo da era digital já era possível saber detalhes sobre as finanças de outros cidadãos. As pessoas podiam solicitar informações na prefeitura e obtinham respostas em pouco tempo. Hoje é ainda mais fácil para noruegueses descobrir quanto seus colegas ganham. Basta acessar o sistema na internet. Isso ajuda a explicar por que a diferença salarial entre homens e mulheres na Noruega é uma das menores do mundo. Há outras medidas que colaboram com a igualdade de gênero em termos de salário, mas a transparência é um fator de peso. Até porque há casos em que mulheres se deram conta de que ganhavam menos que homens para desempenhar a mesma função e descobriram isso checando essas informações no sistema. Os próprios sindicatos publicam listas detalhadas dos valores pagos a cada empregado(a), evidenciando eventuais distinções de gênero.  

Quando eles se tornaram tão 'cristalinos'?

Na Biblioteca Nacional de Oslo é possível encontrar um livro de capa dura cuja primeira página está cheia de publicidade. É o registro de toda a informação básica tributária de todas as pessoas que viviam na região de Oslo em 1918: nomes, endereços, renda anual e quantidade de impostos pagos. Como disse à BBC Einar Lie, professor de História Econômica da Universidade de Oslo, essa prática é tão antiga quanto a história do país. "O primeiro imposto estatal que tivemos foi um pouco depois de a Noruega ter sido fundada como nação. Antes, ela era parte da Dinamarca, até a guerra de Napoleão", explicou Lie. Em 1814, a Noruega ganhou sua própria Constituição, Parlamento, governo, finanças estatais e, portanto, seus próprios impostos. "O primeiro imposto arrecadado foi para fundar o Banco Central da Noruega, e a lista com detalhes dos pagamentos das pessoas foi publicada. Na segunda metade do século 19, a prática foi regulamentada: por lei, assustos tributários precisariam ser públicos", afirmou Lie.

 Por que revelar algo que tantos ocultam?

 A motivação para ser transparente era gerar confiança das autoridades no país nascente. "Nas primeiras décadas, recomendava-se que a informação fosse anunciada em voz alta, porque muita gente não sabia ler e escrever. Então a pessoa responsável lia as informações financeiras de cada habitante na praça." Se a ideia original era evitar que se desse um tratamento especial aos ricos e que funcionários do governo se corrompessem, a estratégia parece ter dado resultado: a Noruega é um dos países menos corruptos do mundo. Lie opinou: "Isso deve ter influenciado nos valores que temos sobre igualdade de salários. A Noruega é um país onde as diferenças sociais são muito pequenas e acho que a transparência nas informações deve ter sido importante para isso." "Debatemos intensamente os salários dos executivos, que devem ser justificados, e são mais baixos na Noruega que em qualquer outro país europeu", indicou.

 O que dizem os chefes?

 É difícil imaginar que muitos executivos ou donos de empresas queiram que seus empregados tenham acesso total a dados sobre seus lucros e rendimentos. Para recorrer à opinião de personagens mais ricos, bem-sucedidos e mais bem pagos, a BBC foi à Conferência Anual das maiores organizações empresariais da Noruega. Aqui está uma amostra de três das respostas da grande maioria dos representantes presentes sobre a pergunta: você acha que é uma boa ideia a divulgação pública de registros de rendimento e impostos em seu país? - Eu gosto da transparência. Realmente, acho que pagar impostos é a coisa mais importante que uma pessoa pode fazer para a sociedade. - Acho que a transparência é algo bom. Evita que os salários dos gerentes cheguem a níveis absurdos. Mas o lado ruim é que ajuda os criminosos a escolher as famílias mais ricas como vítimas, e temos visto um pouco disso. - Isso evita que haja pessoas que recebam salários astronómicos. Se há uma discrepância de 50 ou 100 ou 150 vezes entre o salário mais alto e o mais baixo, isso é absurdo. E se você está recebendo esse salário astronómico e acha que está tudo bem, terá de ser capaz de admiti-lo e justificá-lo. É algo que me parece justo.  

Um modelo replicável?


Se isso que você está lendo te deixa um pouco surpreso, talvez a pergunta que esteja fazendo seja: será que todos os países do mundo poderiam replicar a ideia que tem dado certo na Noruega? Para o professor de Antropologia da Universidade de Oslo Thomas Eriksen, a chave está em questões que estão muito arraigadas na cultura. "Tem a ver com a igualdade, que é algo muito forte na Noruega por razões históricas e também com a influência profunda do luteranismo: a ideia de que tudo deve ser aberto, que não pode haver segredos, porque se você tem segredos, é porque tem algo que quer esconder." Segundo ele, um dos aspectos negativos dessa liberdade de informações é que ela fez a Noruega ser um país menos propenso a riscos, onde se sobressair aos outros é considerado um problema. Na opinião de Eriksen, "há um certo desdém das pessoas pelo sucesso dos outros, uma certa cultura de 'inveja'". Talvez - mas também o país tem muito de "invejável". E quão viável é para outros países mudar seus costumes? Isso vai depender provavelmente de quão distantes eles estão culturalmente de uma sociedade como a norueguesa e quão profunda precisaria ser a mudança de caráter.

Matéria publicada na BBC Brasil, com recortes do blog Cultura Norueguesa. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sport for all : uma possibilidade de democratização do esporte

Este quadro pretende mostrar pesquisas científicas que surgiram no intercâmbio entre o Brasil e a Noruega em diversas áreas.

A tese de mestrado "Sport for all :Uma possibilidade de democratização do esporte", foi escrita por  Paulo Henrique de Souza Cavalcante, ele fez intercâmbio para a Dinamarca, país vizinho da Noruega e fez uma pesquisa sobre Sport for all, uma cultura esportiva que surgiu na Noruega.

Segue o resumo
 Através de uma experiência de intercâmbio para Dinamarca, em que vivenciei uma cultura do Sport for all, alguns questionamentos nasceram e me motivaram a querer investigar esta cultura esportiva. O movimento Sport for all surgiu na Noruega no ano de 1967. A iniciativa norueguesa para este novo olhar sobre como administrar e possibilitar o acesso ao esporte, despertou o interesse em outros países europeus, dando origem ao primeiro encontro internacional para a discussão do assunto, ainda em 1967, na Alemanha. Representantes da Noruega, Suécia, Bélgica e Alemanha discutiram pela primeira vez as possibilidades de implantação de programas dentro desta nova filosofia de prática esportiva, que se estava desenvolvendo. A partir deste encontro, o movimento Sport for all se expandiu pela Europa, atingindo também Canadá e Estados Unidos. Naquele momento o movimento se espalhou, ganhando adeptos que começaram a incorpora-lo, pensa-lo e construí-lo de diferentes formas, conforme as particularidades locais de cada país, também se expandindo para países do mundo todo. Neste estudo, analiso quatro exemplos do movimento Sport for All, procurando o que lhes é comum, e também me aproprio da concepção da Associação de ginástica e Esportes da Dinamarca (DGI), para pensar o esporte em uma perspectiva democrática de acesso. A investigação foi realizada por meio de uma revisão bibliográfica sobre o que já foi publicado sobre o tema, e para análise do DGI, utilizei como fontes documentos pessoais e o site do DGI. A pesquisa mostra que a mídia e propaganda são ferramentas utilizadas pelos governos para difundirem os ideais do movimento Sport for all nas quatro campanhas analisadas, e para tal compreensão e analise deste fenômeno, me aproprio do conceito de Indústria Cultural de Adorno. O que é utilizado para justificar a implementação da nova política e filosofia esportiva adotada, são os benefícios que a atividade física, o esporte ou qualquer prática corporal, trazem para saúde e bem-estar do coletivo, mais o qual a responsabilidade é do indivíduo em buscar e controlar tais benefícios
Para acessar a tese, acesse: Biblioteca digital da UNICAMP